Que
tal ser dono da sua própria vontade?
Incrível como cada vez mais escuto a mesma queixa
dos meus pacientes:
“Não consigo parar de comer (doce)!”
“Já tentei várias
dietas, mas sempre volto a comer como antes!”
“Será que vou conseguir desta
vez?”
Eles chegam cheios de culpa e sempre tentando se
justificar por ter hábitos “errados” e já falam como se tudo estivesse perdido
e que os culpados são eles mesmos.
Discordo.
É claro que nós temos que fazer escolhas na vida o
tempo todo, todos os dias, mas também já está provado que aquilo que comemos
acaba por determinar não só a qualidade, mas também a quantidade do que
ingerimos.
O comportamento
alimentar é definido pelas sensações de fome, apetite e saciedade que por sua
vez decorrem da interação de diversos fatores, tais como, hábitos alimentares
(estilo de vida), disponibilidade de alimentos (sua lista de compras), fatores
sociais e culturais, ritmo circadiano (sono) e da interação de diversos sinais
fisiológicos de regulação (cérebro e intestino).
O foco deste texto é
ilustrar que é possível, de uma forma consciente, ajudar o organismo a obter um
maior controle do que se ingere.
Quando nos alimentamos com açúcar (frutose, sacarose,
amido, lactose, etc), é liberado um hormônio chamado insulina. Esta substância permite que o açúcar que fica circulando
na corrente sanguínea entre para as células para ser transformado em energia. Acontece,
que quando se ingere açúcar em grandes quantidades, a insulina liberada
torna-se insuficiente para a absorção dessa glicose e o organismo continua
sentindo falta de energia, ou seja, fome. Em resumo, quanto mais se come
açúcar, mais fome se sente.
Para regular esta fome, existem alguns hormônios
liberados pelo intestino, PYY e a
colecistoquinina (CCK), que agem no cérebro (hipotálamo) ativando o centro da
saciedade e diminuindo a fome. No entanto, a glicose (açúcar metabolizado) é
obtida ANTES da liberação desses hormônios. Com isso, não se tem a ajuda destes
para parar de comer. O indivíduo acaba comendo mais do que necessitaria.
As proteínas e as gorduras passam mais rapidamente para os intestinos provocando
a liberação dos hormônios CCK e PYY, levando a uma sensação de saciedade mais
rápida. Olha que maravilha!
Existem, também, outros hormônios de
extrema importância ligados ao controle da fome e saciedade, mas eles não
dependem da qualidade do que se ingere e, portanto, não são alvos da nossa
questão agora.
O problema,
então, é que o açúcar funciona como uma substância viciante, afetando o cérebro
de maneira muito semelhante a drogas como a nicotina, o álcool, a cocaína e a
heroína.
Já se havia
demonstrado que animais de laboratório apresentam dois dos três elementos
clássicos utilizados para definir a dependência química: o aumento no consumo da substância
ao longo do tempo e fortes reações quando a substância é
retirada. Agora foi registrado o
terceiro elemento, os efeitos de longo prazo que o açúcar impõe sobre o cérebro.
Os efeitos de longo prazo sobre o cérebro, impostos pela substância
viciante, fazem com que o animal volte ao comportamento dependente mais tarde,
mesmo depois de um longo período de abstinência. Ao ter novamente acesso ao
açúcar, os animais consumiram-no em quantidade muito superior ao volume que
eles ingeriam anteriormente.
Os animais também passaram a consumir uma quantidade maior de álcool
quando o suprimento de açúcar foi cortado, mostrando alterações nas funções
cerebrais que servem como gatilhos para outros comportamentos destrutivos na
ausência da substância que causou o vício.
Este estudo é do Professor Bart Hoebel, da Universidade Princeton
(Estados Unidos).
Há também muita informação consistente que você pode
achar lendo aqui.
A principal mensagem que quero passar é que você tem
dificuldades para seguir uma alimentação saudável por causa do tipo de alimento que vem ingerindo.
As quantidades de calorias podem até serem as mesmas, mas faz toda a diferença
para o cérebro se essas calorias vêm de brigadeiros ou de frango à passarinho,
por exemplo.
A decisão mais difícil a tomar é cortar carboidratos
(açúcar – frutose, sacarose, amido, lactose, etc). Depois, fica mais tranquilo
decidir no dia-a-dia, sem a pressão do vício...
A ausência daquela sensação de fome desenfreada nos
permite selecionar os alimentos com calma, degustar sem pressa e até mesmo
limitar a quantidade ingerida (e isso nem é necessário)!
Como em todo vício, a recaída é um risco. Pode e vai
acontecer. Mas a boa notícia é que, depois de algum tempo sem utilizar
carboidratos como fonte de energia, nosso organismo se recupera mais
rapidamente da agressão e volta ao padrão normal, queimando gorduras (se a
ingestão de açúcar não ultrapassar cerca de uns quatro dias corridos).
Além disso, com o passar do tempo, novas memórias
vão sendo formadas, novas saídas (substituições) para os doces vão sendo
aceitas pelo centro de recompensa do seu cérebro e TUDO vai se tornando MUITO
mais FÁCIL!
Pergunta que não quer calar: você já está pronto
para ser o dono do seu próprio nariz?
Tem mais chegando!